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Quais os dados atuais sobre a LGBTfobia no Brasil e uma ação simples que pode ajudar a combatê-la!

Você alguma vez já sentiu medo de ser agredido apenas por ser LGBTI+?

Infelizmente, esse não é um receio infundado, já que o Brasil foi o país que mais matou LGBTIs no mundo em 2019. Esses dados ficam ainda mais alarmantes quando se faz outro recorte social: o da população trans. Segundo o Relatório Mundial da Transgender Europe, nos anos de 2016 e 2017 foram registrados 325 assassinatos de pessoas trans. Dentre 71 países, o Brasil foi responsável por mais da metade deles. 

Por isso, em junho, mês do orgulho LGBTI+, é fundamental conhecer e refletir sobre a violência sofrida pela nossa comunidade. Abaixo você confere informações sobre as mortes violentas de LGBTIs em 2019, retiradas do relatório anual elaborado pelo GGB (Grupo Gay da Bahia), suas origens e uma ação simples que pode ajudar a combatê-la.

A realidade brasileira

Lamentavelmente, mais da metade dos assassinatos de LGBTIs no mundo ocorrem aqui. Hoje, aproximadamente um LBGTI+ morre a cada 26 horas – índice que supera inclusive os países que criminalizam a comunidade com pena de morte.

Desde o início dos anos 2000 o Brasil vive numa escalada de violência contra a comunidade LGBTI+. Nos últimos 20 anos, tivemos uma média de 130 assassinatos em 2000, número que dobrou em 2010, subindo para 398 nos últimos três anos. Em 2017, tivemos um recorde de casos, com 445 mortes, seguido de 420 em 2018.

Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, esse número caiu para 329 LGBTIs. Entre as vítimas da homotransfobia, 90,3% são homicídios e 9,7% suicídios. Segundo o Monitor da Violência (G1 e Globo News, 2020), essa redução na tendência de mortes violentas foi observada em todo o Brasil.

A ascensão ao poder do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, em 2018, agravou os receios da população LGBTI+. Afinal, é de amplo conhecimento seu discurso lgbtfóbico, que ressoa através de seus seguidores e aliados políticos. Segundo o professor Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia, esse sentimento de ameaça pode ser a explicação mais plausível para a queda no número de crimes violentos contra a comunidade. O instinto de autopreservação nos faz agir com mais cautela quando nos expomos publicamente. 

Dados regionais

Além de ser o estado com maior concentração de renda e população do país, São Paulo foi também o mais violento em relação à comunidade LGBTI+ em 2019. Sozinho, o estado foi responsável por 15,2% do total brasileiro e mais da metade das mortes na região sudeste. É seguido pela Bahia, com 9,7%, e Pernambuco, com 7,9%. Todos os 26 estados brasileiros, junto com o Distrito Federal, registraram mortes violentas de LGBTIs em 2019. Dos 200 municípios com registros, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro foram onde mais ocorreram mortes.

Regionalmente, o Nordeste voltou a ser a região mais homotransfobia do país, sendo palco de 35,5% das mortes violentas de LGBTIs em 2019. É seguido pela região Sudeste, com 29,7%, e pela região Norte, com 17% dos casos. No ano anterior, a região Norte foi a que mais matou, tendo caído para a quinta posição no ano seguinte, com 8,2% dos casos. Foi a primeira vez que região Sudeste ocupou a segunda posição nessa lista.

Quem são essas vítimas?

De acordo com os relatórios do GGB (Grupo Gay da Bahia), o homem gay é a parcela dos lgbtis que, em termos absolutos, possui mais mortes violentas no país. Somente em 2019 foram 174 mortes (58,2%) de homossexuais, seguido por 118 mortes de travestis e transexuais (35,8%), 32 lésbicas (9,7%) e 5 bissexuais (1,5%).

Já em termos relativos, são pessoas trans que apresentam maior risco de ter mortes violentas. Ao se observar a proporção entre o número de mortos e a população de travestis e transexuais estimada no Brasil (1 milhão), constata-se que possuem 17 vezes mais chance de sofrer uma morte violenta do que um homem gay. Se compararmos as populações de Brasil e Estados Unidos com seus índices de violência às pessoas trans, observamos que aqui elas possuem 12x mais chances de ter uma morte violenta. 

Falta de oportunidade e péssimas condições de vida no país explicam esse cenário. Muitas trans e travestis têm como única possibilidade de renda a prostituição, normalmente realizada na rua – local onde também ocorre a maioria de suas mortes. Quanto à faixa etária, 90,7% do total de vítimas são pessoas jovens, entre os 20 e 50 anos. 

Por que suicídios são contados como mortes violentas?

Antes de tudo, é preciso entender que a violência à comunidade LGBTI+ não é apenas física. Na verdade, para nós, a agressão psicológica figura como a mais comum. Você provavelmente já a sentiu em algum momento da vida, seja por parte de colegas, familiares ou desconhecidos.

A maior parte desses suicídios foram cometidos por pessoas que ainda viviam dentro do armário. Elas sofriam algum tipo de lgbtfobia, seja em relação à sua orientação sexual ou identidade de gênero. A violência psicológica, por vezes somada à repressão familiar e de grupos relacionais, acaba sendo internalizada pela vítima ao ponto de levá-la ao suicídio. Nesse sentido, pessoas trans são as mais vulneráveis, correspondendo a 40,6% dos casos.

Por que tanta violência?

É importante questionar como chegamos num quadro tão grave. Alguns fatores nos ajudam a compreender a origem da lgbtfobia no país.

Primeiramente, o Brasil é um país de proporções continentais, tornando muito difícil a coleta de dados sobre a comunidade. Pelo mesmo motivo, a disseminação de uma educação efetiva contra a LGBTfobia se apresenta complexa, agravada pela falta de auxílio do Estado.

Mesmo que a discussão sobre gênero e lgbtfobia esteja avançando nas redes, é preciso lembrar que, offline, nosso país ainda mantém sua cultura machista e conservadora. Vemos o impacto social e político que bancadas religiosas dentro do governo causam ao impedir que discussões sobre LGBTfobia avancem. 

Além disso, temos a enorme desigualdade social característica da sociedade brasileira. Grande parte da nossa população não possui saneamento básico, renda mínima, segurança pública ou transporte de qualidade. Não surpreende que também não tenham acesso à informação ou ao tempo e energia necessários para acompanhar debates políticos e sociais.

Similar aos altos índices de feminicídio ou de genocídio do povo negro, as mortes de LGBTIs no Brasil são resultado da negligência e violência sistêmica de Estado e sociedade.

Como posso ajudar a mudar essa realidade?

Educar-se é sempre o primeiro passo! Busque compreender a história do país, sobre sua conjuntura política e ter participação cidadã ativa. Isso significa também aprender a dialogar. Escute muito, aprenda sobre comunicação não-violenta e amplifique vozes mais oprimidas, sejam elas lésbicas, trans ou pessoas racializadas. Invista e incentive ações em prol da comunidade LGBTI+, como comércios, serviços, produtos, eventos e outros.

A Nohs Somos proporciona uma plataforma onde você pode avaliar os locais seguros para LGBTIs. Estamos criando um mapa colaborativo de ambientes amigáveis e seguros à comunidade. Assim, além de outras pessoas não precisam se expor a situações e ambientes de risco, podemos apoiar aqueles espaços que nos acolhem de verdade!

Por que avaliar locais amigáveis importa?

Esse texto é inteiramente baseado no Relatório de Mortes Violentas LGBTs de 2019. Há 40 anos o Grupo Gay da Bahia (GGB) coleta e divulga dados em forma de relatório anual. Ele é um dos únicos e principais meios de pesquisa sobre a população LGBTI+ no país.

Seu trabalho é feito através da compilação de notícias e reportagens. O que significa que, mesmo com números tão alarmantes, ainda temos um grande quadro de subnotificação da violência contra LGBTIs! Sem compreender ou identificar a real conjuntura da lgbtfobia, não conseguimos desenvolver políticas públicas e medidas efetivas para combatê-la. 

Infelizmente, o Estado brasileiro segue sem apresentar nenhuma estatística oficial sobre a população LGBTI+, e também não dá indícios de mudar essa postura. Nossa plataforma é uma maneira de suprir essa lacuna de dados, tão importantes para a vida da nossa população!

Avalie os lugares que você frequenta e incentive os seus amigos a fazer o mesmo. Com a ajuda de todos podemos criar locais mais seguros para as pessoas LGBTIs no Brasil!

Texto por Luan Gonzatti e Marianna Godoy / Arte por Luan Gonzatti 

Fontes:GGB (https://grupogaydabahia.com.br/)
Politize (https://www.politize.com.br/lgbtfobia-brasil-fatos-numeros-polemicas/)

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